Hoje para concluir o meu último post sobre a minha viagem a Barbacena, vou falar sobre a minha ida ao Museu da Loucura, o antigo Hospital Colônia de Barbacena. Tentei relatar o pouco que sei sobre o que foi denominado "Holocausto Brasileiro", acompanhado das fotos e montagens que eu fiz, além dos registros do próprio museu.
O início desse hospital, antes de se tornar psiquiátrico, era um local feito para pessoas das mais altas classes sociais se internarem, afim de tratar doenças da época, como a turberculose. Tamanho era o luxo, os pacientes hospedados comiam em louças de porcelana.
Somente em 1903, em decorrência de uma necessidade de um hospital manicomial no Brasil, o hospital se tornara um antro para abrigamento aos rejeitados. Inicialmente até houvera uma tentativa de tratamentos dos pacientes com uma medicina que hoje é considerada arcaica, mas que eram na verdade os conhecimentos obtidos na época.
Eram internados quaisquer pessoas indesejadas pela sociedade naquela época, com objetivo de eliminá-las de perto: em sua maioria negros que ainda não eram bem-vindos na sociedade racista que vinha há poucas décadas do fim do regime de escravidão; mulheres que perdiam a virgindade/engravidavam antes do casamento, que desobedeciam pais ou marido; pessoas introspectivas, deprimidas, com problemas de sociabilização; pessoas sem documentos ou desconhecidas pela cidade; portadores de doenças psiquiátricas; homossexuais; portadores de necessidades especiais e deficientes físicos; qualquer pessoa que a família ou alguém importante desejasse internar por desafeto, incluindo crianças.
Em Barbacena até hoje se passa um trem, porém atualmente é apenas para transporte de cargas. Naquela época, pacientes (se é que podem ser chamados disso) eram recolhidos por todo o estado e abandonados no hospital, transportados em dezenas no que era chamado de "trens de doidos". Mesmo com um crescente aumento da estrutura física, era totalmente ineficiente para abrigar a população de rejeitados que crescia cada vez mais ao passar dos meses.
O trem
"Joaquim Antônio Dutra (1953-1943)
O Fundador
Nasceu em São João Nepomuceno (MG), no dia 21 de agosto de 1853 e formou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1881). Em Leopoldina (MG) iniciou sua carreira política elegendo-se presidente da Câmara Municipal, depois deputado da Assembleia Provincial e senador estadual. Estudioso dos transtornos mentais, foi mebro de sociedades acadêmicas de psiquiatria na Bélgica, Itália, Inglaterra e Estados Unidos da América. Em 1903, assumiu a criação e direção da Assistência a Alienados de Minas Gerais e Hospital Colônia de Barbacena; Ocupou a direção do hospital por 33 anos"
Assim que chegavam ao hospital, pacientes eram despidos de qualquer individualidade que possuíam. Todos os pertences eram recolhidos, homens e mulheres eram desumanizados, obrigados a raspar a cabeça e tomar banhos gelados coletivos. Após isso, usavam o famoso uniforme Azulão, feito com tecidos de não tão boa qualidade, mas que nem sequer todos os pacientes recebiam. Aos que não recebiam o uniforme, eram obrigados a andar nús pelos pátios do hospital, desprovidos de qualquer proteção contra o frio de Barbacena, que em épocas invernais é bem rigoroso.
Nas fotos acima é perceptível as pessoas com uniformes, outras sem roupas e a população em sua maioria sendo negra.
Abaixo uma foto de uma das panelas usadas no hospital. Muitas vezes era apenas uma única refeição diária, feita com ingredientes de péssima qualidade, as vezes até estragados, fruto de um desvio de verba que ocorria pelos administradores do hospital. Formavam se filas extensas no pátio e muitas vezes por extrema fome, os internos se alimentavam de qualquer coisa que se era encontrado no ambiente, incluindo ratos.
"Eletroconvulsoterapia
Desenvolvido na década de 1930, por psiquiatras italianos, o método de provocar convulsões através de descargas elétricas, o eletrochoque, passou a ser usado largamente em especial nos casos depressivos. Somente nos anos de 1960, o ECT começou a ser usado após anestesia do paciente.
Os riscos: luxações, fraturas e eventualmente, morte por parada cardíaca e respiratória. As descargas variam entre 120 e 130 volts."
Que horror! Confesso que li até a metade porque achei super pesado, incrível pensar como era a sociedade na época, que fazia isso com as pessoas, ainda bem que mudou!
ResponderExcluirBom findi!
tipsnconfessions.blogspot.com
Eu imagino, o conteúdo é bem sensível mesmo.
ExcluirNossa que triste, sério... esses assuntos realmente me deixam triste de verdade, mas ao mesmo tempo é algo muitoo interessante e que precisa ser falado.
ResponderExcluirEu não conhecia a história desse hospital e fiquei chocada e mais chocada ainda que foi desativado não faz tantoo tempo assim.
Dois filmes que recomento muito sobre o assunto são Nise: O Coração da Loucura e Bicho de Sete Cabeças.
https://www.heyimwiththeband.com.br/
Sim, infelizmente é bem triste :(. Eu também fiquei chocada que demoraram com a desativação de vez...
ExcluirEu queria ver esse Bicho de Sete Cabeças há um bom tempo, mas acabei nunca assistindo. Vou anotar e procurar para assistir, sem dúvidas ♥